terça-feira, 29 de novembro de 2011

O medo da perda


               
                As folhas do pé de castanhola batiam na janela no ritmo da brisa. O silêncio sereno da casa do pescador se cessa com o grito de Luma após a consciência. 
-Ele viu a velha! – conclama Luma apontando pra Rodolfo.
-Que velha? A dos boatos? – Pergunta Seu Guida.
                Luma confirma com a cabeça e faz aparência de assustada. A tal velhinha era um espectro. Uma alma que estava dando medo nos pescadores da Ilha de Maritatacas que pescavam a noite para dar sustento a suas famílias. Ela ficou conhecida como Chica das Aparições, porque ela aparecia sem mais nem menos, do nada e desaparecia do mesmo jeito que aparecia. Segundo os pescadores, Chica tinha um aspecto mais formal e discreto, ela era muito branca, dos olhos claros...
-Mas, você bem, Luminha?
-Estou papai, estou. Rodolfo eu acho que... Vamos estudar mais não, depois disso, perdi a vontade.
                Rodolfo acena e Luma se levanta meio que nocauteada e acompanha Rodolfo até a porta da frente. Ela o seguiu até o pequeno jardim da sua casa, que era notória a presença do pé de castanhola, enorme, e as folhas eram de um verde misturado com vermelho. Eles ficaram frente a frente para se despedir um do outro.
-Que susto você nos deu, a seu pai e a mim também.
-Foi mau – Ela ri – de medo dessas almas – houve um bom tempo em silencio - Então é isso, Tchau.
                Rodolfo olha pro céu estrelado, observa a lua... Estava fazendo frio e um vento mais forte aparece. Luma se encolhe e leva as mãos aos ombros.
-Nossa você deve estar com frio – ele coloca sua jaqueta sobre ela.
O rosto dele se aproxima, a boca dele fica um centímetro da boca dela, o coração de Luma acelera e o dele também. Ele a beija. A Ilha pra eles não está mais fria, mas sim, aconchegante com a união dos dois corpos. O beijo fez com que o mundo deles se juntasse e formassem um só. Quando o beijo se cessa ele pega na mão de Luma e a leva pra beira da praia. Saíram correndo como se aquele fosse o último dia de suas vidas. Rodolfo convida-a a entrar na água. Ela aceita e eles vão.
Deixaram os trajes numa pedra próxima a margem. Luma olha o céu e a lua estava escondida sobre as nuvens nubladas. Havia uma tempestade próxima a vir. Ela achou que alguns minutos na praia não faria mal e entrou na água, na qual Rodolfo a esperava. Minutos se passaram e quando deram por sinal, eles já estavam nus. Era, literalmente, uma noite prazerosa. As ondas estavam severas e Rodolfo notou as gotas de chuva. Já era tarde demais. Para o desespero de Luma, ao tentar sair, a correnteza levou Rodolfo. Ela ficou sem rumo, desnorteada. Não sabia o que fazer. Agoniada, ela se senta sobre a pedra que tinham deixados as coisas e chora. Chora lágrimas de desespero.
Ela sente um vento mais frio e perto do seu ouvido uma voz dizia: “Rodolfo, meu filho, ele vai voltar pra você”. Era Chica das Aparições. Uma fica perplexa ao notar a mão branca, quase transparente pousar em seu braço. Ao olhar pro lado, viu Chica sumir como uma miragem cessante. Em prantos, Luma olha em direção ao mar e vê Rodolfo surgir das águas vorazes. Não sabia se era sentimento de ódio, de alívio, mas ela saiu correndo rumo a ele e esbofeteou se peitos nus e chorou.
-Porque não me disse que Chica era sua mãe!?
-. E o nome dela é Mazé. Eu vim pra cá Luma, porque antes dela morrer ela disse que ia estar nessa Ilha, acabei encontrando você e me apaixonei. Ajude-me a fazer com que as ondas do mar levem-na em paz para o descanso eterno, Rainha da lua? 
-“Que sua alma descanse em paz e que as ondas do mar lhe dêem o sossego eterno”. – conclamou Luma com ironia.
-Eu te amo minha deusa. Pretende que você seja minha rainha também. Quer namorar comigo?
-Eu desejo, eu aceito e eu também te amo meu súdito.
Ela viu o brilho da lua novamente nos olhos de Rodolfo e sentiu dona daquele olhar, daquele homem...  

William Coelho

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Minha Utopia


Foi com um paraíso perfeito que eu sonhei
Foi com uma vida feliz que me iludi
Foi com um sorriso de uma pessoa amada
Que notaram que o meu não é verdadeiro.
Fiquei triste, chorei e minha alma limpei.
E desde então,
Estive
No paraíso, feliz
Com uma pessoa amada,
Depois que morri.


William Coelho

O Susto



As ondas batendo nas pedras, o vento chacoalhando os galhos das arvores, o sol morno e a areia quentinha... Era o cenário perfeito para está ao lado de alguém que nós amamos.
Luma e Rodolfo estavam lá, sentados na areia da praia lado a lado, abrindo o presente. A caixinha exibia um embrulho branco com um laço vermelho, delicadamente colocado sobre a decoração. Cuidadosamente Luma puxa o laço vermelho para soltar o nó que amarrava a caixa. Ela rasgou o papel do presente e tirou a tampa da caixa, revelando, então, uma coroa enfeitada com conchas do mar, búzios e uma pérola linda. Luma se encantou com o simples presente.
- Como é mesmo seu nome?
- Luma.
-Luma, é mesmo. Você sabia qual o significado do seu nome?
-Existe significado pra nomes? – perguntou Luma curiosa.
-Existe, sim. E o significado do seu nome Luma, é Deusa da Lua – disse ele tirando lentamente a coroa das suas mãos e colocando na cabeça dela, coroando-a.
                Luma olha surpresa nos olhos de Rodolfo e vê o mesmo brilho da lua em seu olhar. Ela se encantou por aquelas palavras. Luma e Rodolfo passaram um bom tempo se encarando, olhando um os olhos do outro, até vir um secretário da nova escola e lembrar o professor que o recreio está para acabar.
- Estou indo – lhe responde Rodolfo.
-Recreio? O que é recreio?  
-Vamos dizer intervalo que soa mais bonito. Intervalo ou recreio, como queira chamar é uma pequena pausa nos estudos para os alunos se divertirem no parquinho, ou se alimentarem na cantina. Você viu a cantina e o parquinho que a gente fez para os alunos?
-Não.
-É porque está lá nos fundos, deve ser por isso que você não viu.
                No decorrer dos dias, Rodolfo se aprofundou mais nos conteúdos e ele viu que Luma tinha certas dificuldades em matemática, apesar dos números serem baixos na hora da explicação.
- e ai? Entendeu tudo direitinho? – pergunta Rodolfo em uma das aulas no final da semana.
-Não muita coisa.
                Em uma dessas noites de lua cheia que venta muito e faz frio na beira da praia Luma recebeu uma visita inesperada em sua casa.
-Professor?! – exclama ela atônita.
-Hoje não precisa mais me chamar de professor, apenas Rodolfo. Eu não estava fazendo nada, esta ilha é muito calma, meu perfil é outro. Ai eu lembrei que você estava com dificuldades, então vim aqui lhe ajudar.
-Mas, como foi que você encontrou minha casa?
- Bem, a Ilha de Maritatacas não é tão enorme assim, bastou perguntar a uma velhinha que perambulava por essas ruas tortas e ela me apontou o caminho.
                Luma arregalou os olhos, colocou a cabeça para fora de casa e viu que a rua estava vazia. Nunca tem ninguém nessas horas da noite. Luma só se lembrou do... A vista dela estava ficando meio ruim, Rodolfo estava se embaraçando aos olhos dela, e sua cabeça já não estava muito bem. Luma caiu, desmaiou.
Minutos depois Luma se acorda, mal vendo seu pai sobre ela, super preocupado – Luma era órfã da mãe e tinha apenas seu pai, Seu Gudolfredo mais conhecido como Guida. Guida era um pescador local e muito diferente dos outros homens da ilha, ele não era ignorante e machista – e viu lá perto da porta Rodolfo que também estava preocupado e sem entender nada, com um copo de água na mão.

William Coelho
-Amanhã a última parte.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Aquele Presente...





Em uma pequena ilha pouco habitada, com pessoas sem educação e escrúpulos, morava a bela garota dos olhos cor de mel e cabelos tão ruivos que, no mar chegava a ser confundida com uma sereia. Seu corpo foi maravilhosamente desenhado por uma obra divina. A jovem que arrancava suspiros dos homens mais novos aos mais velhos da Ilha de Maritatacas chamava-se Luma. Uma garota doce e dedicada as suas crenças.
           Numa tarde nublada, sentada, vendo as ondas do mar se tornar violentas e vorazes avançando cada vez mais para a margem da ilha. Ela avista um homem que chega ao cais, provavelmente veio de balsa, ele carregava algo que se interessara, pois era um embrulho que lhe chamara atenção, muito lindo. A curiosidade dela de saber o que havia lá dentro a deixou sem ar, ansiosa. “Deve ser para alguém que ele a ame demais”, pensou ela.
                Dias se passaram e Luma ficou sabendo da fundação de uma escola próximo a sua casa - seria sua primeira vez numa “escola” – em um armazém, que antes era inutilizado. Na semana seguinte ela foi à escola nova. Ao chegar à escola viu muito alunos desnorteados e notaram que eles não sabiam onde eram seus respectivos lugares. Uma professora perguntou quando anos ela tinha e lhe dirigiu a uma sala e lá estava ele. O homem que ela avistara dias antes no cais será seu professor de hoje em diante. Suas bochechas ficaram rosadas de tanta alegria e, enfim, lembrou do presente.
- A curiosidade foi tanta pelo presente que nem notei sua beleza, seus olhos claros, seus cabelos lisos... – Balbuciou Luma quando notou a ausência do presente em seus braços.
Luma se direcionou a uma cadeira e ele estava sentado na mesa até esperar bastante tempo, para os alunos de certas idades se direcionarem aquela sala e perguntar seus nomes. Quando se encontrava um numero razoável de alunos lá, quando ele tentava aprender os nomes dos seus novos alunos, anunciou um sorteio. Foi então que Luma engoliu o ar que respirava com tamanha surpresa: relembrou do presente. Aquele presente que tanto lhe chamou a atenção fazia parte de um sorteio às meninas daquela sala. Os meninos, consequentimente, não gostaram muito da idéia, mas fazer o quê? Eles não iriam gostar da surpresa mesmo.
- Meninas, coloquem seus nomes em pequenos pedaços de papel e me dêem para sortear a ganhadora de um lindo presente. Ah, só relembrando: meu nome é Rodolfo. – lembrou de se apresentar para os alunos que chegaram atrasados.
Rodolfo era um rapaz de uma cidadela que estava em desenvolvimento chamada Mossoró, ele é órfão do pai e veio morar na Ilha em busca de melhores meios de vida, pois sua mãe não podia sustentar-los, só. Rodolfo achou que vindo participar de um projeto como professor achou que se sairia bem, porém era uma comunidade sem educação.
- E a sorteada é... – anuncia ele depois de tanto embaralhar os papeis – ...Luma.
- Eu? – pergunta Luma sem querer, atônita.
-Sim, você.
-E cadê o presente?
- Vish, esqueci na secretaria, quando acabar a aula eu lhe entrego.
A aula acabou cedo para Luma porque não tinha noção do que era recreio, pois tinha se atrasado ao chegar à sala de aula na hora da explicação de como funcionava as coisas numa escola. Luma foi à procura de Rodolfo na secretaria e recebeu a noticia que ele encontrava-se na praia. Chegando à praia o encontrou caminhando pela areia do mar, descalço,admirando o  barulho em que a água salgada fazia ao se chocar com as pedras. Com o presente nas mãos avista Luma.
- Professor? – perguntou a garota aproximando-se dele.
-Oi? – notou que era a aluna sortida e lhe entregou o presente.
-Obrigada! – e sentou-se Luma na areia da praia para abrir o presente ao lado do professor. Seus olhos castanhos cintilavam de curiosidade.

        William Coelho
-Em breve a segunda parte.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Revoluções

Foi o feito 
Perfeito
Do qual me arrependi
Pois o efeito 
perfeito do feito
Agora é defeito

Bianca Felipe

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O peso da culpa



Parte III - Despedida.

“O que você ainda deseja?! Quer que eu acabe com isso ou não?!” Gritei, já impaciente. David baixou a cabeça, me fazendo perceber que estava pensativo sobre tudo. “Eu não consigo partir... Talvez a única forma de eu encontrar a paz seja me vingando. É tudo que penso.” Ele disse. “Então você acha que, acabando com a minha vida, irá conseguir a paz que precisa para partir?!” Perguntei, completamente perplexo.
“Você sabe muito bem que eu nunca teria ido àquela festa se você não tivesse insistido tanto! Eu ainda poderia estar vivo!” Os olhos de David começavam a umedecer. “Não esqueça que quem insistiu em dirigir alcoolizado foi você!” Repliquei. “Mas eu não sabia que ia morrer, Ric! Não sabia que ia dormir no volante! Eu não sei prever o futuro!” Estávamos finalmente tendo uma conversa.
“E você acha que eu sabia?! Eu só queria me divertir com o meu melhor amigo! Perder você não estava nos meus planos!” Desabafei completamente. “Ric! Eu não quero mais saber do que aconteceu! Será que você não vê?! Eu preciso partir para a paz e não consigo!” David foi diretamente ao ponto causador de toda a guerra. “E se você não estiver fazendo o que é certo?” Comecei a refletir, “David, não encontramos paz no ódio. Pelo contrário, talvez esse seja o motivo de você ainda estar aqui. Se quiser a paz, aceite as coisas como elas estão. Siga em frente e nos deixe continuar...” Essa era a solução.
David baixou a cabeça novamente e pensou. Tudo o que ele havia feito não o ajudara em nada. O ódio, a vingança, o rancor guardado... Aquilo tudo só o prendia. “Eu queria estar vivo...” Lamentava. “E eu gostaria muito que você estivesse. Mas não posso fazer nada...” A impotência tomava conta da minha mente. Nunca havia me sentido tão triste.
“Será que ainda vamos nos ver de novo depois que eu me for?” Ele perguntou. “Não sei... Talvez sim.” Meus olhos começaram a lacrimejar. “Me desculpe, Ric, por tudo. Nada mais pode ser feito. Eu não posso estar mais entre os vivos. Preciso ir pro lugar certo. E agora eu aceito... De todo o coração...” Disse David, mostrando ter retirado um peso enorme das costas. E ele não era o único, pois eu também já estava cansado de viver com medo.
Agradecido, estendeu a mão pra mim.
Tentei tocá-la, mas não consegui. Talvez a forte ligação que tínhamos me fizesse crer que eu quase podia senti-lo, mas não chegava a ser algo concreto. Seu rosto começou a ficar menos visível, e logo comecei a perceber que o mesmo também acontecia com o resto do seu corpo. “O que está acontecendo?!” Perguntei, completamente assustado. “Está na hora... Meu tempo aqui acabou, Ric... Preciso dizer adeus. Desejo que você seja feliz.” Disse David.
Não consegui dizer nada. Apenas fiquei parado, calado, vendo-o desaparecer. Até que ele se foi completamente, dando a impressão de que nunca houve alguém no carro comigo. Mas eu sabia que era verdade. Não poderia ter sido um pesadelo com final feliz porque estive acordado o tempo todo. E, se eu fosse na casa de David, não iria mais encontrá-lo lá.
Tudo foi real. E havia acabado. Eu tinha que voltar pra casa e seguir em frente. Porém já sabia que o peso da culpa nunca iria sair de mim por completo. Todos carregam um carma. E esse era o meu.