sábado, 30 de julho de 2011

Parte IV - Mesa pra dois.


Agora não entendia mais nada. Como o nome dela não estava na lista de aprovados em Psicologia no ano de 1985? Não conseguia acreditar que Samantha poderia ter mentido. Porém, em todo caso, iria vê-la à noite. Tudo poderia ser esclarecido lá. Naquele momento, eu devia me preocupar em fazer as pazes com minha irmã.
Vesti uma roupa simples e saí do quarto. Desci as escadas e ela estava na sala, porém estava de saída. “Nós precisamos conversar.” Eu disse. “Agora não. Tenho que ir resolver uma coisa. Depois eu volto.” E saiu porta a fora. Não sabia pra onde ela ia, nem o que iria fazer. Só sabia que Alicia estava muito brava e que eu tinha de concertar isso.
A noite chegara e minha irmã não retornou. Pensei que ela devia estar na casa de Sandra, sua amiga mais íntima, desabafando todos os seus pesares. Ou então em algum outro lugar tentando esquecer tudo. E eu tinha de ir ao encontro de Samantha.
Novamente arrumado, perfumado e bem penteado, fui ao hotel Santoro. Samantha me atendeu e eu entrei. Ela estava linda. Usava um vestido vermelho-sangue que ia até o joelho e deixava suas costas nuas. Levou-me até perto da cama. Lá havia uma pequena mesa com duas cadeiras. Sentei-me em uma delas.
Naquele móvel havia velas, uma bela toalha vermelha que estava por cima de outra branca, e dois pratos de porcelana branca. “O que é tudo isso?” Perguntei, rindo um pouco. “Preparei um ótimo jantar para nós dois. Mas espere um pouco, vou à cozinha porque ainda não está pronto.” Ela respondeu.
Fiquei um minuto sentado, depois me levantei e comecei a andar pelo quarto. Não havia muito por onde vagar, então sentei na cama, perto dos travesseiros. Ao lado, havia um criado-mudo. Avistei, em cima dele, uma papelada que parecia ser importante. Eu peguei. Abri e, lendo rapidamente, sem me aprofundar, percebi que se tratava de um documento de transferência de propriedades, porém não havia assinatura alguma nos campos adequados. Era como se o assunto ao qual se referisse ainda estivesse para ser tratado.
Coloquei o documento onde estava antes, em cima do criado-mudo e voltei para a mesa. “Pronto! Aqui está!” Samantha exclamou, saindo da cozinha, até me assustei um pouco. Ela vinha com uma bandeja de vidro, onde, no centro, havia um prato com alguns bifes de carne. Ela colocou em cima da mesa e foi buscar o arroz refogado que havia preparado e o vinho que comprara.
“Nossa... Que boa recepção.” Eu disse, gargalhando. “Pois é. Vamos comer um pouco. Planejei isso especialmente para hoje à noite.” Samantha comentou. “E tem algo especial essa noite?” Perguntei. “Você está aqui. Isso já é especial.” Ela tocou meu rosto e sorriu.
Começamos a comer.
Comi três bifes. Quando terminei meu prato, lembrei da minha consulta na lista de aprovados em Psicologia no ano que minha mãe entrou para a universidade. “Ah, tenho que te perguntar uma coisa.” Comecei o assunto. “Então pergunte.” Samantha permitiu. “Pesquisei na internet e encontrei a lista dos aprovados em Psicologia no ano de 1985, o ano em que minha mãe ingressou na universidade, mas... Não havia o seu nome lá.” Depois que falei, segundos de silêncio se passaram.
“Você andou pesquisando sobre mim? Duvida de quem eu sou?!” Ela começou a se exaltar e aumentar seu tom. “Não! Não posso duvidar de quem você é... Porque nem sei quem você é! Queria, pelo menos, descobrir seu sobrenome!” Abri o jogo. “E por que não me perguntou?! Por que precisa saber o meu sobrenome?!” Samantha parecia nervosa ou aflita. Aquilo a estava exaltando.
“Calma! Não precisa ficar assim!” Também comecei a aumentar meu tom de voz. “Você pediu ajuda a alguém?! Comentou sobre isso com alguma outra pessoa?!” Sua expressão preocupada estava me assustando. “Não! Não comentei com ninguém! E agora eu vou embora! Não quero ficar aqui e agüentar esse ataque de nervos!” Comecei a andar até a porta.
“Ah, não... Você não vai embora, Samuel...” Ela mudara seu tom de fúria para o sutil...
Eu parei. “E quem vai me impedir?” Falei, ainda de costas para ela.
Samantha passou ao meu lado e foi até a porta. Trancou-a. Depois virou e ficou frente a frente comigo. “Você quer descobrir quem eu sou...?” Seu olhar estava devorador. Apenas continuei encarando-a.
“Então agora você irá descobrir!” Estava na hora de mostrar o outro lado da moeda.

Por: Gabriel Phelipe Dantas.
Em breve, a última parte.

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